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Vira Lata

É assim denominada a raça de cães sem raça. Aqueles animais abandonados pela sorte de terem um lar com comidinha e aconchego, e que reviram as latas de lixo (hoje o termo mais condizente seria fura-saco? Já que não há mais lata de lixo pra´ virar…) à procura da própria sobrevivência. Sempre sujos, rotos, feios e desprezados, carregam na aparência a desconfiança e a distância para não serem mais humilhados, embora se saiba que são exemplos de lealdade e coragem. Vira lata é o bicho!

Já o complexo de vira-lata, bem desenvolvido pelo jornalista e dramaturgo Nélson Rodrigues há décadas passadas, refere-se ao sentimento de inferioridade que o brasileiro passou a carregar, a partir da primeira copa do mundo de futebol que o Brasil foi sede em 1950.  A geração da época não gosta nem de lembrar, ou não consegue, decorridos 66 anos. O jogo era a final do campeonato contra o Uruguai, e o Brasil perdeu de 2×1. A mídia dos jornais tradicionais afirmara que o estádio Maracanã ficou em silêncio sepulcral, os radialistas mudos e, eu acredito que, se tivéssemos uma tecnologia de comunicações televisivas como temos hoje, as imagens seriam de total humilhação e desconsolo. A perda do título já consagrado, empurrou a emergente nação ao patamar mais baixo da desilusão e abandono, qual um cachorro vira-lata, e, recentemente repetida em parte, na segunda copa do mundo que organizamos em 2014, com a absurda derrota de 7×1 sofrida contra a Alemanha. Era a semifinal do campeonato em pleno estádio do Mineirão, e essa derrota descabida de uma equipe que se achava, e se perdeu em campo. Muita gente também prefere não se lembrar disso, afinal seria um dos poucos trunfos de orgulho que o povo teria se a seleção se despedisse, senão vitoriosa, ao menos de forma digna.

O rescaldo do evento foi uma herança cruel que expôs mais ainda a humilhação que a nação sofria nas mãos de políticos e empresários corruptos: valores superfaturados nas construções e reformas das arenas, obras que caíam e matavam as pessoas, projetos viários urbanos abandonados, aeroportos estrangulados e com tecnologias ultrapassadas; ou seja, a lata de lixo estava exposta.

Da mesma forma aconteceram as Olimpíadas no Rio em 2016! Ou foram as olim-piadas? Nem ao menos começaram e já tínhamos uma obra (banal pra´ qualquer país sede ou não de um evento dessa categoria) na cidade sede do Rio de Janeiro, a ciclovia “Tim Maia” construída com fins de entretenimento turístico, que matou pessoas e novamente ridiculariza o nosso povo por conta da inépcia e má administração. Associada a isso, ocorreram vários vídeos (holandês, chinês, etc) que foram viralizados na Internet, além de editoriais de jornais e programas de TV estrangeiros, recomendando seus cidadãos não viajarem ao Brasil pelas péssimas condições de higiene, poluição, saúde pública e segurança. Até mesmo residentes estrangeiros de evidência pública fizeram a sua chacota pessoal: “O Brasil não é atípico, é uma aberração”. (Gregory Michener, Professor FGV Rio).

Associada aos desmandos e despautérios de uma ex-presidente  frouxa e coberta de solecismos, uma avalanche de informações foi minando mais ainda a autoestima de quem se considera patriota, como se fossemos sentenciados perpetuamente à marginalidade de outras sociedades mundiais. E o pior: por alguma coisa que não pedimos! Mais um evento que importa muito aos bajuladores do poder oficial, e pouco às necessidades de uma nação sofrida em suas necessidades básicas. Comemorar o quê?  Torcer para quem? Confraternizarmos com quem nos menospreza? Será que, assim como aconteceu na Copa quando oferecemos vantagens à FIFA, uma entidade dominada pela arrogância e contaminada pela corrupção, repetimos essa simploriedade ao COI (Comitê Olímpico Internacional)? Já foi patético ter visto o desfile de tocha pelo país às custas de propagandas milionárias, para atrair a atenção de pessoas para o evento, quanto mais pensarmos nas vendas de ingressos nos bastidores para as competições normais e para os jogos da elite: golfe, hipismo, vela, dentre outros. País massacrado por governos torpes e corruptos de uma seita socialista que a tudo abafava.

Mas, o outro lado da moeda também é falso: pura raspa de purpurina. Os europeus, chineses, japoneses, ingleses ou norte-americanos fazem blague aos nossos erros e falhas, e que são temporais e serão superados. Mas, nessa crítica se esquecem das guerras, perseguições, racismo, colonialismo que eles mesmos afligiram em seus povos e no mundo. Como comparar o sofrimento das pessoas injustiçadas ou massacradas em uma escala de 1 para milhares? Ou de milhões? O sofrimento pode ser o mesmo, mas na intensidade ainda estamos na superfície dessas “mentes evoluídas” que se atolam em profundidades abissais. Veja o que a História conta a respeito deles nos últimos 150 anos, e depois reflita sobre a tenacidade da raça humana ter sobrevivido até então.

Nunca duvidamos que iríamos resgatar o nosso orgulho como nação! Lugar de corrupto e ladrão é na cadeia. A nossa Cultura tem que ser higienizada da esbórnia midiática que insiste em desestruturar a família e seus valores, em troco de verbas publicitárias nababescas. O maior grito a esse respeito foi dado nas eleições de 2018, um basta na ideologia socialista e comunista, e mais uma barreira contra os corruptos, através da renovação política.

Se somos “sem raça definida” (SRD) pela miscigenação de nosso povo, com respeito às minorias e na condição de hospitalidade ao estrangeiro, mantendo as raízes do Homem Cordial de Sérgio Buarque de Holanda, que nos orgulhemos dela e de nossa coragem com que enfrentamos o ataque insano de bandidos que, durante décadas, se esconderam nas hostes do poder. Já sabemos como enfrentá-los com a democracia e justiça, e se vivenciamos  uma fase obscura por termos acreditado no canto da sereia, estamos agora noutro patamar de maturidade, mudando dessa situação nefasta.

E por último, ser patriota agora não é opção de modismo ou ufanismo, é uma redenção! Se hoje nos sentimos meio que abandonados sem encontrar uma mão amiga de apoio, amanhã ao fortalecermos nossa identidade mundial, teremos a experiência para ajudar outros povos que sonham com essa mesma liberdade.

Prof. Dr. Márcio Bambirra Santos

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