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11/12/2018

A Devastação Ambiental Urbana

Segurança, Centralidade e Mobilidade Urbana

 

Antes tínhamos a sensação de sermos prisioneiros em nossa própria casa. Agora, também somos prisioneiros em nossos automóveis! É indiscutível a falta de segurança que assola a nação, muito menos pela (eterna) crise socioeconômica do que pelos exemplos que vem de cima. A impunidade manifesta de nossas autoridades, que servem de contraexemplo moral ao cidadão comum, com respaldo de parte do judiciário. O remédio receitado aos incrédulos de plantão é apenas um, óbvio: o armamento das pessoas. A população que se vire. Mas, o que se tem visto é justamente o contrário do esperado, ou seja, a penalização das pessoas quando tentam rechaçar bandidos que invadem suas casas, roubam seus carros e ameaçam suas vidas, ou então ao emitirem a sua opinião sobre a Justiça para um ministro que sistematicamente solta os maiores bandidos da corrupção do país.

Ao aprisionamento das famílias cercadas de grades, câmeras, seguranças privados e blindagem de veículos (para quem pode, é claro), soma-se a redução drástica do direito e do tempo de ir e vir, pelos congestionamentos que não param de crescer. A falta de investimentos públicos nas obras que atendam um melhor conforto da massa populacional que se desloca ao trabalho como o transporte coletivo na expansão das linhas de metrô e trens, VLTs e BRTs fazem parte de uma realidade distante, assim como a construção de trincheiras, viadutos, anéis rodoviários e ciclovias. A manutenção dessas estruturas então, é algo que existe apenas corretivamente e não preventivamente, sobretudo das árvores nos canteiros próximos das pistas de rolagem que embelezam, mas também matam.

E o pior, isso tudo é assimilado como se fosse normal ou natural, como se o cidadão comum tivesse que ser penitenciado continuamente, por viver, e submetido a um sofrimento sem fim.  O cerco também é cultural via surgimento de novos conceitos, que de forma maquiavélica e insípida, reforça o adestramento da massa. Exemplo disso é que na quase total falta de mobilidade urbana, nos fazem acreditar e aplaudir a CENTRALIDADE: o centro é o núcleo original, o ponto de partida nodal e/ou uma aglomeração urbana que possua todos os serviços e produtos necessários às pessoas que ali vivem. Ou seja, tudo junto e misturado. Seria ótimo se funcionasse, mas a regra é “nem sempre é assim”.

De um lado o bicho pega, de outro o bicho come. A população (do primeiro parágrafo se vira. E agora…) que se revire. Em outras palavras, nessa esfinge moderna, nem tudo que está próximo é o necessário ou desejado, e o que está longe é inalcançável. Empurram mais um desafio para a neurose urbana.

Uma das válvulas de escape da cobiça e oportunismo de poucos, associados a inércia e incompetência do poder público, a Centralidade é a palavra mágica do momento que justifica a ganância desmedida dos empreiteiros em seus lançamentos imobiliários, a despeito dos últimos espaços verdes da região metropolitana de BH. Afinal, bichos e árvores não reclamam.

Para os incrédulos e o séquito de bajuladores, foi criado um conceito tão fenomenal quanto, eles creem, ao que a Grécia clássica criou de POLIS e sua função elementar de agregação e aproximação das pessoas ao longo desses últimos milênios. E é tudo que a desfaçatez política deseja para não se ocupar da melhoria da mobilidade urbana através de investimentos. Um cidadão entorpecido na massificação cultural, quando se desloca no dia-a-dia, vai reclamar pouco (ou nada) da falta de transporte decente, viadutos, pontes, túneis, passeios, iluminação, etc.. É normal virar suco.

Dois exemplos da hipocrisia dessa turma que defende e aplaude a Centralidade que agride e esgarça o meio ambiente acontecem à vista-d´olhos na região metropolitana de BH, como se fossem cópias do que já aconteceu na Pampulha, Serra do Curral, São Bento, Lagoa Santa, Lapinha e tantos outros locais:

1)  Vila da Serra, onde uma única e mísera área destinada a uma praça para a comunidade é objeto de demanda judicial, desde a administração anterior à atual, anseiam em mudar a destinação para mais um espigão a favor da “Centralidade Sul”. Dessa forma, fará um par perfeito com o Concórdia Corporate no início da avenida, outro sonho megalomaníaco que já impacta moradores de bairros e condomínios próximos, e irá piorar após o seu pleno funcionamento. O lado bom é que poderá dinamizar a venda de helicópteros ou começar a selar os cavalos, pois dependendo do horário, só assim para transitar por ali;

2) Vale do Sereno, área contígua à Mata do Jambreiro (não devastada totalmente pelas mineradoras por causa dos condomínios ali existentes, e que brigaram muito na Justiça), já tem o seu momento agonizante final com a devastação proporcionada pelo empreendimento do consórcio CGDI, PATRIMAR, SOMATOS, etc, com a construção do cassino, digo bairro, Bellagio. “Alea jacta est” (a sorte está lançada), literalmente, a considerar o nome de batismo do empreendimento. Sem placas, sem responsabilidade técnica evidenciada, sem fiscalização, a obra corre ao sabor do clube de apostadores, digo, investidores. O Ministério Público estampa bem o seu papel, nada a fazer, nada a declarar. Aliás, essa é linha comum dos lançamentos imobiliários campeões na altimetria e estrutura de saneamento inexistentes nos projetos aprovados pelo poder municipal. Essa é a herança ecológica que a comunidade acomodada recebe.

O que significa esse adensamento populacional e a consequente devastação ambiental de matas e nascentes de água para as gerações atuais e futuras? Não há compensações, não há justificativas, não há qualquer ação de proteção ambiental. Só o silêncio da conivência e do medo.

Prof.Dr. Márcio Bambirra Santos

mb@mbambirra.com.br