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12/01/2019

A Reabilitação do Colapso

O professor e pesquisador da Universidade da Califórnia, Jared Diamond, é um biogeógrafo não só preocupado com os sinais de alerta de áreas ecologicamente comprometidas no mundo atual, como também um crítico moderado sobre as decisões econômicas, sociais e políticas que impactam a qualidade da vida e a sua continuidade.

Em seu livro “Colapso”, Diamond (2013), enuncia o seu modelo de análise da sobrevivência das sociedades que já habitaram e habitam o planeta, em 5 grandes pilares:

  • os danos que as pessoas em um determinado momento infligem ao meio ambiente,
  • a mudança climática,
  • os vizinhos hostis redundando em conflitos intermitentes ou crônicos com o enfraquecimento da sociedade na combinação de problemas econômicos, políticos e ambientais;
  • os parceiros comerciais fracos que contaminam a própria saúde econômica da sociedade que deseja desenvolver, e
  • a resposta que o estado/governo dá aos problemas sociais.

De acordo com o autor, os quatro primeiros fatores (não há qualquer primazia de causa, apenas conveniência de apresentação) podem ou não se mostrar significativos para uma sociedade em particular, mas o quinto fator sempre se mostrou significativo.

Este livro emprega o método comparativo para compreender colapsos sociais que tiveram a contribuição de problemas ambientais… concentrado mais em colapsos do que na evolução de sociedades, comparo muitas sociedades do passado e do presente que diferem em termos de fragilidade ambiental, relações com os vizinhos, instituições políticas e outras variáveis externas que influenciam a estabilidade de uma sociedade. As variáveis internas que examino são o colapso ou sobrevivência, e a forma do colapso, caso este ocorra. Relacionando variáveis externas com variáveis internas, pretendo destacar a influência de possíveis variáveis externas nos colapsos”. (DIAMOND, 2013, pag.35).

Para colocar as coisas nos seus devidos lugares, inclusive a soberba e vaidade humana, o tempo analisado nas transformações dos seres vivos e suas chances de sobrevivência é sempre contado em muitas décadas, séculos ou milênios, o que confere um certo sentido de insignificância à raça predominante, ou conforme Gould (2001),

“…o tema comum nas grandes revoluções ocorridas durante a história da ciência foi a sucessiva derrubada da arrogância humana, de um pedestal depois do outro”. (GOULD, 2001, pag.33)

Na dialética da sobrevivência atual, de um lado há o domínio do poderio nuclear nunca visto, capaz de uma devastação final, pois não haverá chances para outra. De outro, a espécie humana se encontra nos limiares do início de uma grande jornada dada pela ciência e engenharias (aeroespacial, médica, computacional, saneamento, etc), aumentando a expectativa média de vida das pessoas e aumentado a sua mobilidade para novos locais. Mas, sempre é bom reforçar que a humanidade ainda é a raspa de tinta nesse enorme prédio da evolução da vida no planeta, ou seja, algo em torno de 250 mil anos, ao passo que só os dinossauros ficaram por aqui cerca de 170 milhões de anos, de acordo com Borenstein (2013).

Nos tempos atuais, a visão de futuro ou a preocupação com as novas gerações, com poucas ações concretas para a convivência comum no planeta, chega às raias de um discurso bolorento de 50 anos atrás, coisa de hippie doidão.  Mas, como a omissão é um pecado tão mortal quanto a destruição da natureza, o alerta continua sendo dado por alguns altruístas que teimam em confrontar a exploração irresponsável, sem falsos alarmismos ou fantasias.  A obstinação se aproxima do castigo no mito de Sísifo que foi obrigado pelos deuses a rolar uma pedra montanha acima, embora ela sempre, ao chegar no cume, rolasse montanha abaixo reiniciando o sofrimento.

Em outras palavras, existem lutas que se arrastam há décadas e a sociedade ainda não conseguiu encontrar as melhores soluções, seja na pesca da baleia pelos japoneses ou na devastação das madeireiras na Amazônia, passando pelas denúncias às mineradoras que aniquilam os rios e lençóis freáticos em países como o Brasil, o crime de exploração de petróleo no Ártico, ou ainda mais perto, a sanha desenfreada de empreiteiros na devastação dos cinturões verdes urbanos.

“A ideia da proposição de normas que transcendam as barreiras geográficas e que excedam a Soberania dos Estados tem surgido como a mais discutida hipótese de garantia dos ideais de justiça ambiental. Contudo, a massiva capacidade econômica das empresas transnacionais dificulta a imposição de Direitos positivos tradicionalmente projetados – provenientes de um Estado rigoroso e com limites bem estabelecidos em instituições de Direito Público”. (ALVES, pg.40)

Com o problema da seca que atinge os principais mananciais das grandes metrópoles no país, o governo continua acreditando que a única ajuda é a que pode vir do céu, a chuva. Qualquer obra de infraestrutura de saneamento contradiz o ad hoc eleitoral. As contingências mudaram (e não foram ao menos pensadas), assim pede-se mais verba contingencial para secas ou enchentes nas ações emergenciais de uma acomodação plena. Mudar esse método de desgoverno é tão encorajador como ensinar música a um macaco.

Nem a tecnologia espacial para ajudar a enfrentar as intempéries naturais é poupada. O programa espacial brasileiro empacou após a revogação, em julho de 2015, do decreto do Projeto comum Brasil-Ucrânia Cyclone 4, mesmo depois desses países terem investido algo em torno de um bilhão de reais. Se essa dinheirama toda é jogada fora, pior é a dependência tecnológica (telemática estratégica) criada. Essa, pela sua ausência ou independência, dificulta o sensoriamento remoto de regiões devastadas em imagens captadas por satélites e o gerenciamento meteorológico (www.cnpm.embrapa.br/projetos/sat/), monitorando o avanço ilegal da produção agrícola de culturas de sobrepasteio como a degradação da caatinga, a desertificação pela monocultura comercial (cana e soja principalmente) e a agonia lenta da floresta amazônica.

Não é à toa que a palavra mais utilizada de quem não sabia planejar e dependia da sorte suportada pela incompetência e corrupção, é contingência. Os últimos mandatários federais foram exímios em assumir as posições de destaque nesse pódio, só que deixaram o paciente Brasil em colapso no CTI. Prova disso, foi a crise que se agravou ainda mais em 2015 com o corte de 70 bilhões de reais do Orçamento por conta do ajuste fiscal. Tarde demais, pois era nítido a dívida pública que não parava de crescer: de 2004 a 2013 seu crescimento foi de 8,98% aa., ao passo que o PIB cresceu no mesmo período 3,64% aa.. Era a cobra que engolia o próprio rabo, onde o superávit primário servia apenas para aumentar e rolar a própria dívida de um governo que massacrava a educação, a pesquisa, saúde, ciência e tecnologia, e sabe-se lá o que mais. O mercado já assinalava aos investidores que o risco Brasil vinha aumentando, uma vez que agências de classificação rebaixaram a nota de crédito do país em moeda estrangeira (BBB- para BB+, Austin Rating, www.austin.com.br). O significado disto, não só para a recuperação da credibilidade econômica como para investimentos necessários que só trazem seus resultados no longo prazo, foi o caos na gestão imediatista que se instalou nas decisões palacianas de mentalidade e prazo curtos. O ano de 2016 foi o coroamento da insensatez com o advento do impeachment da presidente Dilma.

Sem dúvidas, o quadro desse coma social será revertido, e embora o custo e o tempo sejam ainda incógnitos, ninguém nega o protagonismo do Agronegócio na configuração do principal alicerce econômico e social. E as fronteiras para crescimento fazem o Pré-Sal parecer troco de feira urbana, conforme Miranda (2018), onde o pesquisador aponta o potencial papel decisivo dos produtores rurais na manutenção de áreas preservadas e no uso sustentável das terras, produzindo energia renovável, fibras e alimentos com tecnologias modernas, inovadoras e tropicais. É a chave para a liberdade dos grilhões do centralismo estatal.

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Prof. Dr. Márcio Bambirra Santos*

Economista e Administrador

mb@mbambirra.com.br

 

Referências

ALVES, Bruno M. Crimes Ambientais Corporativos e a Necessidade de Regulamentação das Empresas Transnacionais, Dissertação de Mestrado, UFSC, p.40, 2017.

BORENSTEIN, Seth. _Oldest fossil found: Meet your microbial mom. Yonkers, NY: Mindspark Interactive Network. Associated Press, 2013.

GOULD, Stephen Jay. _Lance de Dados: a idéia de evolução de Platão a Darwin. Rio de Janeiro: Record, pag. 33, 2001.

MIRANDA, Evaristo de. _Tons de Verde. A Sustentabilidade da agricultura no Brasil. São Paulo: Metalivros, 2018.

Sites

www.cnpm.embrapa.br/projetos/sat/

www.cnpm.embrapa.br/projetos/basedados.php

www.austin.com.br/